DOCUMENTOS DO MERCOSUL

Dia Internacional de Luta pelos Direitos dos Trabalhadores do Mercosul

Dia Internacional de Luta pelos Direitos dos Trabalhadores do Mercosul
Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul

Desde o início da construção do Mercosul, em 1991, nossas organizações sindicais têm expressado, através da Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul, uma posição favorável a um processo de integração entre nossos países, acreditando que esse seria um instrumento importante para a busca de uma melhor inserção do Cone Sul na economia internacional e formulação de um novo modelo de desenvolvimento. Apresentando alternativas, temos nos posicionado pela construção de uma autêntica união econômica, social e cultural de nossos países e alertado para o agravamento dos problemas sociais, que uma estratégia apenas comercial e tarifária poderia produzir.

Do ponto de vista estritamente comercial, o volume de intercâmbio entre os países do Mercosul cresceu significativamente, assim como também o déficit comercial em relação a terceiros mercados. Esse desequilíbrio reflete as políticas de ajuste de inspiração neoliberal, adotadas pelos nossos governos, que se baseiam na privatização de empresas e serviços públicos, na abertura indiscriminada do comércio externo e na estabilização monetária com base no câmbio e elevadas taxas de juros. As conseqüências sociais dessas políticas têm sido dramáticas, ampliando o desemprego, o arrocho dos salários, a informalidade e precarização do mercado de trabalho, o corte nos gastos sociais e a inviabilização da seguridade social.

Antes de finalizar a constituição de uma união aduaneira o Mercosul está negociando o estabelecimento de áreas de livre comércio no hemisfério americano- o ALCA, e com a União Européia que, se por um lado poderão ampliar o volume de comércio, por outro poderão condicionar o próprio futuro desse processo, aprofundando ainda mais os desequilíbrios econômicos e sociais já existentes.

Os responsáveis políticos têm agido como se a opção por um regionalismo aberto e desregulado fosse a única via para a atração de novos investimentos. Mas o fato é que não há nenhuma garantia para a retomada do crescimento em nossos países. Os investimentos externos têm se dado à custa de condições extremamente favoráveis às transnacionais, que têm se beneficiado de fortes reduções fiscais e pressionado pela maior precarização e informalidade do mercado de trabalho, sem que no entanto lhes seja exigida nenhuma contrapartida e sem que assumam nenhuma responsabilidade com o desenvolvimento regional.

Também não podemos aceitar que se desconheçam problemas reais da agricultura familiar, que tem enfrentado os impactos do crescimento da interdependência regional e da competição externa, sem contar com uma política agrícola comum que possa promover sua reconversão e apoiar sua inserção nesse novo cenário comercial. Torna-se portanto fundamental a realização de uma reforma agrária como forma de geração de emprego e renda.

Nós defendemos que a integração se dê em outras bases, tendo como prioridade o bem estar das pessoas e não apenas o aumento da competitividade que principalmente beneficia as grandes empresas que operam na região.

É com essa certeza que temos apresentado várias propostas que não têm sido consideradas nos âmbitos governamentais que gerenciam o Mercosul.

Reivindicamos, sobretudo:

a) a plena democratização das instâncias de decisão, tanto através da participação dos atores envolvidos, nas diferentes áreas negociadoras, como através da devida consideração dos posicionamentos do Foro Consultivo Econômico e Social do Mercosul e da Comissão Parlamentar Conjunta, expressões sociais e políticas indispensáveis para um processo de integração em bases verdadeiramente democráticas;

b) aprovação da Carta de Direitos Fundamentais dos Trabalhadores do Mercosul, que consiste num conjunto de direitos laborais básicos consagrados pelas convenções da OIT e de mecanismos legais de aplicação para que se garantam padrões iguais de proteção e de direitos a todos os cidadãos; com a adoção da Carta de Direitos se poderá resolver a dramática situação de milhares de trabalhadores migrantes, que muitas vezes vivem em condições ilegais e por isso submetidos à condições de trabalho de subumanas.

c) adoção de políticas produtivas regionais, de promoção e reconversão de setores que têm sido diretamente afetados pelos impactos comerciais, visando principalmente a implementação de uma política ativa de promoção do emprego; como parte dessa política propomos a criação de um Fundo de Apoio à Reconversão Produtiva e Requalificação Profissional e à promoção do Emprego,

d) o estabelecimento de mecanismos e garantias para a realização de negociações coletivas a nível do Mercosul, sobretudo nas empresas multinacionais, que têm cada vez mais se utilizado da queda das barreiras comerciais para a implementação de estratégias integradas de produção, investimento e ampliação de mercados, afetando o emprego e os salários em diferentes localidades e setores, sem respeitar os direitos sociais e sindicais internacionalmente reconhecidos, como o direito à negociação e representação coletiva.

Nesse Dia Internacional de Luta pelos Direitos dos Trabalhadores do Mercosul, realizado simultaneamente em Fortaleza e em outras localidades dos países membro do Mercosul, queremos convocar a sociedade, especialmente os trabalhadores, a contestar esse modelo de integração e a ocupar seu espaço e papel nesse processo. E aos governantes declaramos que só conquistaremos a plenitude democrática se o Mercosul for, principalmente, um instrumento .de integração social.

Pelos Direitos dos Trabalhadores do Mercosul: Emprego, Salário, Direitos Sociais e Sindicais. Contra a precarização das relações de trabalho.

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