27/07/2001 - Brasil : policiais
Polícia Civil faz greve no Pará e Piauí
Agência JB
Policiais civis do Pará e do Piauí entraram ontem em greve por aumento de salário. Segundo o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Pará, Raymundo Benassuly, o movimento, que reivindica reajuste de 30%, teve adesão total dos policiais da capital paraense. No Piauí, a greve foi motivada pela diferença salarial entre os delegados e os demais policiais.
Em Pernambuco, onde a paralisação da Polícia Civil completou ontem 24 dias, os líderes do movimento e o secretário de Administração, Maurício Romão, não chegaram a um acordo. Escrivães e e agentes reivindicam aumento de 28%, percentual concedido à Polícia Militar, e contratação de 1.600 agentes aprovados em concurso público desde 1998.
O presidente do Sindicato dos Policiais, Henrique Leite, disse em Recife que há 8 mil cargos vagos na polícia pernambucana.
Disparidade - Em Roraima, a disparidade salarial criou um foco de insatisfação na Polícia Militar. Dois terços dos soldados da corporação recebem salário de R$ 1.380, pago pela União desde que Roraima deixou de ser território federal, em 1988. O restante da tropa recebe salários que variam de R$ 341, pago aos recrutas, a R$ 500.
Existe insatisfação também na PM do Amapá, que também era território e foi elevado à condição de estado em 1988. Metade dos 2,4 mil policiais militares do estado recebe piso salarial de R$ 1.492,45, custeado com verbas federais. Para o restante do efetivo, o piso é R$ 779, 97, pouco mais que a metade do que ganham os policiais pagos pela União.(©Jornal do Brasil)
Salário mixo justifica greve da PM, diz Lula
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Santa Maria
O presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva acusou ontem, em Santa Maria (RS), o governo da Bahia de ter provocado a violência, saques e arrastões durante a greve da Polícia Militar para enfraquecer o movimento. E defendeu o direito de policiais fazerem paralisações.
"Acho que, no caso da Bahia, o próprio governo articulou os chamados arrastões para criar pânico na sociedade. O que o governo tentou vender? A impressão que passava era a de que, se não houvesse policial na rua, todo baiano era bandido. Não é verdade. Os arrastões na Bahia me lembraram os que ocorreram no Rio em 92, quando a Benedita [da Silva, petista e atual vice-governadora do Rio] foi para o segundo turno [nas eleições para a prefeitura]. Você percebeu que, na época, terminaram as eleições e, com isso, acabaram os arrastões?"
"A PM pode fazer greve. Minha tese é que todas as categorias de trabalhadores que são consideradas atividades essenciais só podem ser proibidas de fazer greve se tiverem também salário essencial. Se considero a atividade essencial, mas pago salário mixo, esse cidadão tem direito a fazer greve. Na Suécia, até o Exército pode fazer greve fora da época de guerra", disse.
As declarações foram feitas durante a Caravana da Agricultura Familiar, que Lula realiza no Sul. Durante todo o dia, Lula falou sobre a prioridade que dará, caso seja eleito presidente, para a agricultura familiar. Usou, como exemplo do quanto isso poderia ser positivo para o país, o casal de agricultores com quem tomou café da manhã, Moacir Aozani, 53, e Inês Aozani, 47.
Eles vivem com renda de R$ 260 vendendo seus produtos para uma feira no centro de Santa Maria, cidade administrada pelo PT. Trocaram o cultivo do fumo pelo de vegetais.
FMI
O petista criticou o acordo que está sendo discutido pelo governo federal com o FMI e o acusou de estar ""engessando" a administração do futuro presidente.
"Acho que o governo está fazendo de tudo para engessar o novo governo. Todo o discurso, o desmonte do Estado, é feito porque, na cabeça doentia da equipe econômica e na subordinação ao capital externo, querem que qualquer governo continue desenvolvendo suas políticas. Só temos interesse em ganhar as eleições para não fazermos as políticas que eles estão fazendo", afirmou Lula.
O governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), foi à tarde ao encontro da caravana.(©Folha Online)
PM ocupa 15 presídios do Rio e de Niterói e assume a direção de sete
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
WAGNER MATHEUS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A PM (Polícia Militar) ocupou ontem 15 presídios no Rio e em Niterói (14 km da capital), assumindo a direção de sete deles, que tiveram os diretores exonerados pelo secretário estadual de Direitos Humanos e Sistema Penitenciário, João Luiz Pinaud, por suposta adesão à greve dos agentes penitenciários.
Cerca de mil policiais participaram da ação. Até as 18h30, não havia registro de incidentes provocados pela presença dos policiais no interior das penitenciárias.
O terceiro dia da greve dos agentes foi marcado por novas tentativas de fuga e protestos de detentos nos presídios Talavera Bruce, Moniz Sodré (ambos no complexo penitenciário de Bangu) e Hélio Gomes (centro).
A detenta Maria Neucy Jesus das Silva, 23, foi baleada no braço esquerdo ao tentar fugir com outras 30 mulheres das galerias B e C. Até o início da noite, o Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) -órgão do governo estadual- não havia informado como a presa foi ferida e quem fez o disparo.
As detentas penduraram um lençol do lado de fora das janelas gradeadas com os dizeres: "Covardia. Balearam a colega. Estão nos ameaçando de morte. SOS". De acordo com a PM, a presa, internada no Hospital Penitenciário, passa bem.
O preso Paulo Luís Sena, 22, baleado anteontem na cabeça durante manifestação no Vicente Piragibe (Bangu), continua internado em estado grave no hospital Souza Aguiar.
No Moniz Sodré, um grupo de presos tentou escapar, arrombando portões. A fuga foi evitada pelos policiais militares.
No Hélio Gomes (complexo da Frei Caneca, no centro), dezenas de presos tentaram escapar. Eles chegaram a cavar um buraco de cerca de 40 cm de profundidade, mas a PM impediu a fuga.
Alguns presos aproveitaram para protestar, erguendo faixa que dizia: "Assessoria jurídica: 1.500 presos e um estagiário. Queremos nossas visitas amanhã".
A ocupação da PM deve ser mantida pelo menos até as 9h de hoje, quando os agentes realizam assembléia na entrada do complexo de Bangu para decidir a continuidade da greve.
O relações-públicas da PM, tenente-coronel Nilton Lourenço, afirmou que, dentro dos presídios, os policiais estão orientando as visitas e fiscalizando os banhos de sol, que foram suspensos pelos agentes penitenciários.
Fim da greve
O presidente do Sindicato dos Servidores da Secretaria de Justiça, Josias Alves Mello, disse que são grandes as chances de a greve terminar. De acordo com ele, o governo prometeu conceder um aumento de 19% para os agentes a partir de agosto. Essa é a principal reivindicação da categoria.
O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), afirmou ontem que cortará o ponto dos agentes penitenciários caso a paralisação seja mantida. Afirmou ainda que os grevistas poderão responder a inquérito.
Até as 18h de ontem, sete diretores de presídios tinham sido exonerados por Pinaud: Abel Aguiar (Bangu 2), Ivan Júnior (Bangu 3), Nilzon Gama (Bangu 4), Paulo Roberto Rocha (Sá Carvalho), José Luiz dos Santos (Talavera Bruce), Norberto de Moraes (Milton Dias Moreira) e Jalmi de Souza (Vicente Piragibe). De acordo com Pinaud, eles foram afastados do cargo porque aderiram a greve dos agentes.
O presidente do sindicato dos servidores desmentiu o secretário. Ele afirmou que os diretores afastados estavam demissionários desde o início da greve.(©Folha de são Paulo)
Polícia Civil do Piauí decide entrar em greve pedindo 11% de aumento
Efrém Ribeiro e Marly Quadros
TERESINA e BELÉM. Policiais civis do Piauí decidiram ontem entrar em greve por tempo indeterminado, reivindicando reajuste salarial de 11% para toda a categoria e aumento do salário inicial de R$ 900 para R$ 1.100. No Pará, a Polícia Civil também está em greve desde ontem. Em Pernambuco, os grevistas decidiram manter a greve, que já dura 24 dias. Eles reivindicam aumento do piso para R$ 180 e nomeação dos concursados.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Piauí, Constantino de Sousa Barros Júnior, disse que as delegacias do estado só atenderão casos de crimes contra a vida.
No primeiro dia de paralisação no Pará, houve grande adesão, mas apenas dos que trabalham na Região Metropolitana, formada pelos municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara. Os superintendentes regionais da Polícia Civil disseram que na maioria dos municípios os policiais não aderiram à greve.
Segundo Justiniano Alves, presidente do Sindicato dos Delegados do estado, a greve está sendo fortalecida.
Sempre começamos nossas paralisações assim. Com o passar dos dias outros policiais engrossarão o movimento. Também não podemos confiar nas declarações de pessoas que ocupam cargos com gratificação de DAS disse.
De manhã os policiais fizeram uma passeata pelo Centro de Belém, que acabou em manifestação na porta da Delegacia Geral do Estado. O comando de greve informou que haverá outra passeata amanhã em Belém. Além disso, está sendo programada, possivelmente para segunda-feira, uma assembléia-geral, quando a categoria pretende formar comissão que tentará negociar com o governo do estado o aumento salarial.
Os policiais civis do Pará reivindicam reposição de 30%, referente à defasagem de janeiro de 1995 a junho de 2001; progressão funcional, que não é feita pelo governo desde 1995; e aumento de 25% para 100% da gratificação de polícia judiciária. Os policiais militares não aderiram à greve, como tem acontecido em vários estados, porque conseguiram reajuste de 16% nas negociações com o governo.
A onda de greves de policiais começou em maio, em Tocantins. Depois foi a vez da Bahia, onde houve saques. Em ambos os casos a greve durou 12 dias e houve intervenção do Exército. Em Alagoas, a greve durou quatro dias. Em São Paulo, os policiais também fizeram manifestações pedindo aumento salarial.(©O Globo)
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