12/09/2006 -
VW abre PDV e diz que fica na região
William Glauber
Do Diário do Grande ABC
O impasse entre Volkswagen do Brasil e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT) insinua chegar ao fim ainda nesta semana. Na quinta-feira (14), os trabalhadores da montadora alemã decidem em assembléia se aprovam ou rejeitam as novas propostas resultantes de mais de 110 horas de negociação entre dirigentes sindicais e diretores da companhia. Até lá, membros da comissão de fábrica e metalúrgicos debatem ponto a ponto a nova proposta do acordo, costurado após a empresa suspender 1,8 mil demissões e os empregados retornarem ao trabalho.
Se o plano for aprovado, a Volkswagen sepulta a ameaça de fechamento da unidade ao assegurar dois novos produtos à Anchieta, em São Bernardo um compacto e uma picape e, assim, produzir 800 unidades por dia. Até julho de 2007, a Volks encerra a produção do Fox Europa na unidade.
Mas, para garantir o futuro das operações da mais antiga planta do grupo alemão no país, o efetivo de trabalhadores terá de ser reduzido em 3,6 mil pessoas até 2008, como alega a montadora desde o início da crise em 3 de maio. Para isso, a fábrica abrirá PDVs (Programas de Demissão Voluntária) em cinco etapas, com incentivos financeiros para o desligamento de número determinado de trabalhadores. Caso as metas de demissões não sejam atingidas, a Volks tem o direito de indicar os demitidos.
A primeira etapa deverá eliminar 1,5 mil postos de trabalho na planta ainda neste ano. Os empregados que se inscreverem no PDV entre 25 de setembro e 21 de novembro recebem 1,4 salário por ano trabalhado. Quem adererir entre 22 de novembro e 31 de janeiro de 2007 recebe 1 salário a cada ano. Caso não chegue ao número mínimo de 1,3 mil desligados, a Volks completa a meta e oferece 0,6 salário por ano trabalhado. Outras quatro etapas de PDVs ao longo dos próximos três anos terão a função de reduzir o efetivo da unidade em mais 1,6 mil pessoas. No entanto, o incentivo financeiro regride progressivamente até o último PDV.
O CFE (Centro de Formação e Estudos) terá todos os trabalhadores desligados, que, com isso, recebem incentivo de 0,6 salário por ano trabalhado, caso se desligarem até 27 de outubro ou 0,4 salário para os desligados entre 30 de outubro e 21 de novembro. Dos 499 trabalhadores do CFE, 47 serão reinseridos às linhas de produção por comprovarem doença profissional.
Os trabalhadores desligados terão direito a trës meses de plano de saúde. Além disso, a empresa não implementará terceirizações, limitará o banco de horas a 150 horas anuais e não haverá redução de 35% da tabela salarial para novos contratados. A negociação também prevê os valores das PLRs (Participação nos Lucros ou Resultados) para os próximos três anos.
Debate O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, evita comentar o conteúdo das propostas para não influenciar a decisão dos trabalhadores. "Não vou falar se é positivo ou negativo porque sei o peso que a minha opinião tem na fábrica. Quero, efetivamente, que os trabalhadores façam um grande debate e cheguem às suas próprias conclusões", diz Feijóo. Segundo o sindicalista, a assembléia foi agendada para esta quinta-feira a fim de que, ao longo dos dias, os trabalhadores intensifiquem a discussão sobre os pontos apresentados em assembléia informativa segunda-feira.
Embora não emita opinião sobre as novas pautas das propostas construídas em negociação com a direção da Volkswagen, Feijóo ressalta que o entendimento exposto segunda-feira é um avanço nas negociações. "Chegamos ao nosso limite, dadas as condições que nós tínhamos até agora. O que posso dizer é que foram propostas mais frutíferas que as anteriores, porque antes não existiam propostas nenhuma. Agora, há pelo menos uma proposta para os trabalhadores analisarem", explica o presidente do sindicato.
Críticas O membro da oposição à direção do sindicato Melão Monteiro criticou as propostas apresentadas aos trabalhadores e disse que elas pouco diferem do conteúdo do acordo fechado em Taubaté. "Em essência, a proposta é a mesma, embora com valores diferentes", avalia. Para ele, o PDV da Anchieta se transformará fatalmente em PDI (Programa de Demissão Incentivada). "Sabemos que há muita gente perto da aposentadoria, mas não sei se chegarão até 1,5 mil demitidos ainda neste ano."
Para Melão, os trabalhadores precisam modificar a situação e rejeitar o acordo. "O sindicato virá com discurso de que isso é melhor do que fechar a fábrica", prevê. "Na verdade, se trata de um pacote de maldades ao estender a tabela salarial e aumentar o desconto em folha do plano médico", considera Melão. Ele promete organizar debates entre os trabalhadores na fábrica para a análise de cada ponto pactuado entre sindicato e montadora.
Fonte: Diário do Grande ABC
|