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18/05/2006 -

Um 'eco-escracho' em Buenos Aires contra as fábricas

Manifestantes da cidade argentina de Gualeguaychú fazem animado protesto em frente a embaixadas

Ariel Palacios

Evangelina Carrozzo, Rainha do Carnaval da cidade argentina de Gualeguaychú, alterou ontem a sisudez da capital do tango requebrando ao som de uma batucada, lançando o primeiro "eco-escracho" carnavalesco da História do país.

O alvo foi a construção de duas megafábricas de celulose - uma pertencente à finlandesa Botnia e a outra à espanhola Ence - que estão sendo erguidas a todo vapor à beira do Rio Uruguai, no município uruguaio de Fray Bentos, a 25 quilômetros do centro gualeguaychense.

O "escracho" é uma modalidade argentina de protesto a domicílio. Em vez da tradicional marcha pelas ruas de uma cidade, o "escracho" é uma manifestação realizada na frente da casa das pessoas que são alvo do protesto.

No entanto, o frio de 16 graus que pairava nos ares portenhos impediu que os foliões-manifestantes repetissem as cenas protagonizadas por Evangelina na recente cúpula de presidentes latino-americanos, caribenhos e europeus realizada em Viena, quando a morena deixou os líderes mundiais boquiabertos ao desfilar na frente deles com um minúsculo biquíni com lantejoulas (peça básica do carnaval de sua cidade), carregando um cartaz com os dizeres "Não às fábricas de celulose poluidoras".

Em Buenos Aires, na seqüência da bem-sucedida "Operação Biquíni" realizada na Áustria, embora com trajes mais discretos, Evangelina, liderando uma caravana de centenas de gualeguaychenses, protestou na frente da embaixada da Finlândia.

Depois, os manifestantes foram à embaixada da Suécia. Ali, protestaram contra o projeto de instalação de mais uma fábrica, pertencente à empresa sueca Stora Enso, sobre o Rio Negro, afluente do Rio Uruguai.

Os manifestantes deixaram na embaixada da Finlândia documentos nos quais expunham sua posição sobre a instalação da fábrica e seus temores de um significativo impacto ambiental e econômico . O protesto previsto para a frente da Embaixada da Espanha foi suspenso por falta de tempo.

Os protestos foram organizados pelas lideranças da Assembléia Popular de Gualeguaychú que, entre dezembro e março, bloquearam 2 das 3 três pontes que ligam a Argentina ao Uruguai, causando um início de asfixia à economia uruguaia.

Calcula-se que as perdas econômicas para o turismo e comércio desse país chegaram a US$ 350 milhões.

Os manifestantes afirmaram que não desistirão até ver a suspensão das obras. Eles sustentam que as fábricas causarão um apocalipse ambiental, que também afetará a economia da região e disparará o desemprego do lado argentino da fronteira. Os uruguaios - unidos num consenso inédito - apóiam a instalação das fábricas, que prometem remover o Uruguai da vida espartana causada pela estagnação econômica. O conflito, que está sendo analisado paralelamente no Banco Mundial e na Corte Internacional da Haia, é a maior crise diplomática entre a Argentina e o Uruguai desde 1955.

Enquanto isso, do lado uruguaio da fronteira, há indignação contra esse tipo de manifestação. O prefeito de Fray Bentos, Omar Lafluf, afirmou que o aparecimento de Evangelina de biquíni na cúpula em Viena e os "escrachos "não fazem bem "à imagem da região lá fora".

Os gualeguaychenses, no entanto, querem internacionalizar os protestos, e já planejam levar o carnaval à Finlândia e Espanha. e

Fonte: O Estado de S.Paulo