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07/06/2006 -

Vandalismo contra o Congresso Nacional

BRASÍLIA - Mais de 500 integrantes do Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST), carregando pedaços de pau, foices e enxadas, promoveram ontem um quebra-quebra e deixaram um rastro de destruição na Câmara, entre o Anexo 2 e o Salão Verde. Eles viraram um Fiat vermelho que estava no estacionamento e o arremessaram contra as portas, jogaram tijolos contra as vidraças, quebraram os oito computadores e o detector de metais do Anexo 2.

Depois quebraram um busto do ex-deputado, ex-senador e ex-governador de São Paulo Mário Covas (PSDB), destruíram quatro computadores de auto-atendimento, usados para orientar os visitantes sobre as dependências e eventos na Câmara, painéis de avisos e, ainda, quase todas as plantas do Cerrado de uma exposição sobre meio ambiente. Houve confronto entre seguranças e manifestantes, e cerca de 24 pessoas ficaram feridas, a maioria agentes de segurança da Câmara.

O coordenador de Logística do Departamento de Polícia (Depol) da Câmara, Normando Fernandes, sofreu afundamento craniano frontal e edema cerebral e está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Lúcia. Ele foi atingido por um manifestante do MLST durante a invasão. Um dos seguranças da Câmara quebrou a perna ao ser jogado de uma escada rolante que dá acesso à entrada do subsolo do Anexo 4.

Prisão

Policiais da Câmara dos Deputados prenderam o principal líder do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), Bruno Maranhão, que passou mal e caiu no chão, em frente ao prédio do Congresso. Maranhão, que é membro do PT, foi abordado por oito policiais da Câmara que lhe deram ordem para acompanhá-los.

Ele se negou a obedecer e foi agarrado por um dos agentes, que o dominou com uma "gravata". Os policiais começaram, então, a carregar Maranhão até um veículo do serviço de segurança. Foi quando Maranhão começou a passar mal e caiu no chão.

Minutos antes, o líder do MLST, depois de ouvir do presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), que mandara prender todos os líderes da manifestação, tomou a iniciativa de convocar os manifestantes que ocupavam o Salão Verde a deixarem o prédio do Congresso.

Expulsão

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, defendeu a abertura de processo de expulsão de Bruno Maranhão do Partido dos Trabalhadores. "O partido tem que fazer imediatamente uma representação ao Conselho de Etica para verificar se houve a participação de alguns de seus integrantes nesses atos. Prejudicaram enormemente o governo. Não temos de ter solidariedade com erros e ações levianas como essa", disse Chinaglia.

Enquanto os invasores do MLST ocupavam o Salão Verde da Câmara, no plenário os líderes partidários condenavam a ação. Os líderes da minoria foram unânimes no sentido de que o momento não é de alimentar divergências, mas de união em defesa do Legislativo. E sustentaram que, independentemente de quem tenha cometido a violência na casa, deve ser punido dentro da lei. O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) defendeu a imposição de limites e a prisão dos invasores.

Reivindicação

O MLST reivindica a revogação da MP 2.167, editada ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, que proíbe a vistoria para a reforma agrária de propriedade ocupada. Exigem também a liberação de recursos do Orçamento para a reforma agrária.

Marcos Praxedes, um dos líderes do grupo, disse que o movimento foi fundado em 1995, como dissidência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), e é ligado ao PSol e PSTU.

Quem é Bruno Maranhão

BRASÍLIA - O homem que comandou a invasão dos sem-terra ao Congresso não apenas integra a Executiva Nacional do PT como participou de um dos grupos que preparou as diretrizes do programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a campanha à reeleição. Secretário de Movimentos Populares do PT e líder do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), Bruno Maranhão faz parte da extrema-esquerda petista e chefiou a ocupação do Ministério da Fazenda, em abril do ano passado.

Em julho de 2004, Lula chegou a vestir o boné do MLST depois de se reunir com Maranhão e outros líderes, no Palácio do Planalto. Na ocasião, ele também autografou os bonés de 14 coordenadores do movimento. Apesar do gesto calculado para aplacar a ciumeira - já que um ano antes havia se deixado fotografar com o boné do MST -, Lula sempre considerou Maranhão "muito radical".

Mesmo assim, não se opôs à decisão da cúpula do PT de chamá-lo para o grupo do partido que preparou as diretrizes do programa de governo sobre "conjuntura e política de alianças".

Filho de família de usineiros pernambucanos, Maranhão estudou engenharia, mas não exerceu a profissão: ainda estudante, alinhou-se à resistência armada contra a ditadura, nos anos 60. Passou pelo clandestino PCB e pelo Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).

Participou de ações armadas e, com o AI-5, caiu na clandestinidade, sendo obrigado a morar nos chamados "aparelhos" em vários estados. Acabou exilado no Chile e, após a derrubada de Salvador Allende, foi para a França. Maranhão só retornou ao País em 1979, com a anistia, e ajudou a fundar o PT, em 1980. Presidiu o PT de Pernambuco de 1983 a 1985.

Crítico do MST, por achar que o movimento dirigido por João Pedro Stédile não dá ênfase aos ideais socialistas e defende um modelo de reforma agrária burguês e ultrapassado, Maranhão tenta organizar os sem-terra desde o início dos anos 90. Foi um dos idealizadores do congresso que deu origem ao MLST, no ano de 1997, em Brasília. O atual objetivo de seu grupo é criar um conjunto de mil empresas agroindustriais e organizadas de forma coletiva por todo o País.

Em 2002, Maranhão disse ser favorável à autodefesa armada das lideranças de organizações de esquerda. Afirmou que, dependendo a região, ia armado às ações de invasão de terras. "Seria hipocrisia não dizer isso", completou. Ontem, diante das críticas à ação no Congresso, retrucou: "Não somos o Primeiro Comando da Capital. Não estamos na era da barbárie. Nosso movimento é e sempre foi pacífico".

OAB e Magistrados condenam vandalismo

BRASÍLIA - A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) condenaram ontem os atos de vandalismo praticados na Câmara dos Deputados por integrantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST). "O Estado Democrático de Direito é de ordem e não de baderna. Não podemos admitir que um símbolo da República, que é o Congresso Nacional, a Casa das leis, seja invadido dessa forma e seja ofendida a cidadania brasileira com um ato dessa natureza", declarou o presidente nacional da OAB, Roberto Busato. "Não é com anarquia que vamos conseguir modificar esse estado de coisas", acrescentou.

A presidente interina da AMB, Andréa Pachá, afirmou que o episódio não tem relação com a democracia. "As cenas vistas nesta tarde nada têm a ver com o sentimento democrático. Representam, sim, um ato de violência que transcende qualquer direito e desqualifica qualquer motivação, ainda que justa", disse. Segundo Andréa Pachá, a AMB espera uma apuração isenta e rigorosa dos atos e a punição exemplar dos responsáveis.

Fonte: Tribuna da Imprensa