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20/07/2006 -

Nas empresas e nos sindicatos, as queixas de sempre

Marcelo Rehder, Márcia de Chiara

Argumento geral é que cenário interno favorável justificaria uma queda mais acelerada dos juros

Embora em linha com as expectativas do mercado, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir os juros básicos em 0,5 ponto porcentual foi criticada por empresários e sindicalistas.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o BC demonstrou, mais uma vez, que não enxerga a situação da economia real. "Há espaço para corte mais acentuado da Selic, só o BC não vê", diz. Skaf alega que a inflação em queda justifica corte maior.

Para o diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, o BC está deixando escapar uma boa oportunidade para reduzir a Selic de modo mais rápido, contribuindo para que o crescimento do PIB supere as previsões para este ano.

"Se o objetivo é um crescimento acima dos 3,5% previstos para este ano, então a Selic deverá continuar a trajetória de queda", comenta. Para Tabacof, á folga nas indústrias para atender a aumentos de demanda, sem pressão nos preços.

Também para os representantes do comércio o nível atual dos juros deixa muito a desejar. De acordo com a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), embora os cortes na Selic sejam importantes para a redução da dívida pública, eles não tiveram reflexos para os consumidores e empresários, que ainda pagam juros muito altos.

Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), ressalta que os juros no Brasil continuam os mais altos do mundo. "Isso é um grande inibidor dos investimentos, da produção e do consumo", observa.

Na avaliação do economista, o nível atual dos índices de inflação e de atividade permitiriam uma queda mais acentuada dos juros. Mas, na prática, existem outros obstáculos à queda das taxas ao consumidor. Para o supervisor geral das Lojas Cem, Valdemir Colleone, a inadimplência elevado neutraliza a queda da taxa básica.

"Por enquanto, não vamos mexer nas nossas taxas", diz Colleone. Na Lojas Cem, a inadimplência representa 5% dos créditos a receber. Contudo, o executivo pondera que o prosseguimento no corte dos juros deve melhorar o ânimo do consumidor.

Já o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Érico Ferreira, considera que corte foi significativo. "Mais importante que a velocidade é o rumo da queda", diz.

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, a redução foi pequena demais. "Juros excessivos, ainda que os menores da série, não combinam com crescimento econômico, geração de emprego e distribuição de renda".

O presidente da Força Sindical, João Carlos Juruna Gonçalves, também considera o corte insuficiente."A oferta de empregos só aumentará com crescimento maior da economia, o que demanda crédito farto e barato".

COLABOROU VERA DANTAS

Fonte: O Estado de S.Paulo