21/07/2006 -
Jornada excessiva compromete educação de jovem comerciário
Agência Brasil
Jovens na faixa etária de 16 a 24 anos têm um perfil adequado aos interesses dos empregadores no setor do comércio. Mas os benefícios de ocupar uma vaga com a perspectiva de garantir o próprio sustento e de ajudar financeiramente a família podem esbarrar na suspensão dos estudos e impedir que esse trabalhador evolua profissionalmente.
Na cidade de São Paulo, trabalham 428 mil pessoas no comércio. Desse total, 172 mil (40%) estão com idade entre 16 e 24 anos.
Além de cumprir uma carga que pode chegar a 56 horas semanais (acima das 44 horas previstas na legislação trabalhista), muitos desses jovens ganham salários mais baixos do que a média de empregados mais velhos. A renda, muitas vezes, também é inferior à de jovens da mesma idade que ocupam cargos em outros ramos da economia.
Esses foram os principais pontos identificados na pesquisa "O Jovem Comerciário: o Binômio Educação e Trabalho", feita pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) e o Sindicato dos Comerciários de São Paulo.
"Constatamos que há uma precarização nesse tipo de mão-de-obra, o que é ruim para o país, pois esse jovem, além de cumprir uma excessiva jornada de trabalho, recebe baixos salários e fica impedido de ir para uma universidade", observou o presidente do sindicato, Ricardo Patah. "Muitos deles têm apenas o segundo grau ou nem chegaram a completar essa etapa do ensino."
Segundo o levantamento, 25% dos comerciários conseguem freqüentar a escola, embora 89,2% tenham demonstrado o interesse em completar os estudos, dos quais 80,7% com a intenção de cursar uma universidade. Outro dado é que 15,4 % desses jovens mostraram interesse em cursos que poderiam garantir carreira no comércio, como vendas, propaganda e marketing, comércio exterior, administração e contabilidade.
Na avaliação do sindicalista, o quadro é contraditório com as novas exigências do mercado, que investe cada vez mais em tecnologia, o que se traduz na necessidade de o empregador contratar funcionários mais capacitados.
Em relação a outras áreas, o comércio é a que mais absorve mão-de-obra jovem. Enquanto na indústria 17,4% são jovens dessa faixa etária e 16,9% têm acima 25 anos, no comércio, esse percentual sobe para 21,3% entre os jovens de 16 a 24 anos e para 14,6% para quem tem mais de 25 anos.
No setor de serviços - que tem maior participação no mercado de trabalho em São Paulo, com 56,2% do total de vagas oferecidas - empregados que têm entre 16 e 24 anos ocupam 54,1% e os maiores de 25 anos, 56,7%.
De acordo com o supervisor do escritório do Dieese em São, Paulo Silvestre Prado, os salários também são mais baixos no comércio e mesmo dentro do próprio setor há distinções mais desfavoráveis entre os mais jovens.
Em janeiro de 2005, os mais jovens tinham renda mensal média de R$ 554, enquanto os profissionais com idade acima de 25 anos ganhavam R$ 1.119. Nos setores de indústria e serviços, quem tinha mais de 25 anos ganha em média duas vezes e meia a mais.
Outro ponto identificado pela pesquisa é que as mulheres são maioria entre os empregados na faixa de 16 a 24 anos, ocupando uma fatia de 53,3% do mercado. Uma das razões apontadas por Patah é que nessa idade os candidatos do sexo masculino podem ser preteridos por causa da convocação para o serviço militar.
Fonte: Valor
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