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28/07/2006 -

Suspensão da queimada de cana prejudica cortadores

BRASÍLIA - Dois mil trabalhadores rurais, oriundos de Minas Gerais, Bahia e outros estados do Nordeste, deixaram de colher cana ontem em Monte Aprazível, a 475 quilômetros de São Paulo. O governo do estado determinou a suspensão da queima da cana devido à seca que atinge a região.

Os trabalhadores reclamam que a suspensão das queimadas vai causar prejuízos para eles, que recebem R$ 9 por tonelada de cana queimada e R$ 18 por tonelada pela cana com palha. No entanto a cana queimada facilita a colheita.

"Eles ameaçaram atear fogo nas plantações, foram impedidos pelos agricultores e iniciaram uma greve", contou Celso Blanco, um dos fornecedores de cana da Associação dos Plantadores de Monte Aprazível (Canaplam). Blanco tem 42 hectares de cana para serem colhidos a partir de 1º de agosto, mas com a suspensão da queimada pelo Governo do Estado de São Paulo, o prazo pode esticar.

Decepção

A decepção tomou conta, ontem, do cortador de cana João Raimundo Oliveira Batista, de 27 anos. Ele viajou milhares de quilômetros para fugir da seca e trabalhar na colheita de cana-de-açúcar, no interior de São Paulo. Mas é justamente o clima quente e seco do inverno paulista que ameaça afastá-lo do seu objetivo: conseguir dinheiro para dar uma vida melhor aos três filhos e à mulher que ficaram em Barreiras, no interior da Bahia.

"Esse calor é insuportável mas, enquanto a gente está trabalhando, vai mantendo esperança de voltar e dar uma vida melhor para os filhos", diz Raimundo. O trabalhador contou que colhe cerca de 8 toneladas por dia de cana queimada, mas não colhe mais de 2 toneladas da cana com a palha.

"Cortar cana com a palha reduz muito a produtividade e não podemos receber aquilo que planejamos", diz Raimundo. "Se essa suspensão continuar, a coisa vai ficar feia para nós", acrescenta.

A expectativa é de que, caso a suspensão continue, a colheita venha a sofrer revezes dentro de quatro dias, quando toda a cana queimada já estará colhida e os cortadores poderão reduzir o ritmo para receber apenas o piso da categoria (R$ 600).

Clima

Depois de um começo de semana preocupante, o índice da umidade relativa do ar voltou a subir, ontem, nas regiões de Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Bauru. Em São José do Rio Preto, onde a umidade chegou a 18% na terça-feira, batendo um recorde de dez anos, o índice subiu para 23% (às 16h de ontem).

Em Bauru, onde havia atingido 20% na quarta-feira, o índice subiu para 30%; e em Araçatuba, saltou de 20% na quarta-feira para 28% ontem. Em Presidente Prudente, o índice nesta quinta-feira era de 24%, acima dos 18% registrados no dia anterior.

Apesar do alívio, a população continuou lotando as unidades de Saúde em busca de tratamento para os problemas respiratórios. Em São José do Rio Preto, segundo a assessoria da Secretaria de Saúde, metade dos 13 mil atendimentos diários é de adultos e crianças com dificuldades respiratórias.

Em dias normais, esse índice não chega a 10%. "Eu coloquei água e toalha umedecida no quarto, mas mesmo assim não adiantou muito. Minha filha vai ter de tomar inalação", diz Maria Isabel Rodrigues, mãe de uma garotinha de 2 anos, que procurou atendimento ontem no posto de saúde do Solo Sagrado, na Zona Norte de São José do Rio Preto.

Apesar disso, a expectativa é de que o tempo melhore. De acordo com as previsões meteorológicas, há possibilidade de chuva nas regiões Oeste e Noroeste do estado até domingo com a chegada da frente fria vinda do Sul do País.t

Fonte: Tribuna da Imprensa