30/07/2006 -
Demissões na Volks terão impacto na Baixada Santista
Da Reportagem
NILSON REGALADO
Noventa sindicatos da Baixada Santista, Vale do Ribeira e Litoral Norte resolveram entrar na luta pela manutenção dos seis mil postos de trabalho que a Volkswagen pretende fechar nas suas fábricas brasileiras até 2008. A decisão partiu dos dez sindicatos de avulsos que integram a união portuária e ganhou força dentro do Conselho Sindical, que funciona com o aval da Subdelegacia do Trabalho de Santos.
Sem precedentes nos últimos 50 anos, a união das diversas categorias em prol dos metalúrgicos do ABC surgiu a partir da constatação de que toda a cadeia produtiva será afetada com as demissões na Volks.
A estimativa do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é que para cada posto de trabalho fechado na montadora outras 47 pessoas perdem seus empregos, num processo em cascata que passa pelas fábricas de auto peças, passa pelos caminhoneiros.
Na Baixada Santista esse processo atingiria desde os metalúrgicos da Cosipa, que fornece aço para a montadora alemã. O risco do facão também pesa sob a cabeça dos trabalhadores do Pólo Petroquímico de Cubatão, que fornece insumos para a Volks. Estimativas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC apontam que 40% de toda a matéria-prima utilizada na confecção de um veículo são derivados da indústria petroquímica. Até os estivadores e demais avulsos do Porto correm o risco de ver seu vencimento diminuir, já que uma possível redução na atividade da Volkswagem pode afetar a exportação de veículos pelo Porto de Santos.
Consequentemente, o impacto dessas prováveis demissões acabaria atingindo outros setores da economia, como comércio e serviços, fortes da Região Metropolitana da Baixada Santista, Litoral Norte e Litoral Sul.
Isso sem contar os 400 moradores da região que sobem a Serra do Mar diariamente para trabalhar na planta da Volkswagen que funciona às margens da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, onde 3.680 metalúrgicos devem ser demitidos.
Vai para a Ásia
Ainda de acordo com lideranças do ABC, a transferência dos seis mil empregos do Brasil para a Ásia, para onde a Volkswagen pretende transferir a produção de motores que hoje funciona aqui, pode retirar até R$ 262 milhões da economia nacional. Há um prejuízo para a economia como um todo, resume o cientista político Alcindo Gonçalves, coordenador do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT).
Extra-oficialmente, a empresa estaria pensando em transferir a unidade de produção do Brasil para a Ásia a fim de diminuir o impacto do custo da mão-de-obra no custo final de cada veículo produzido. No País, do preço final de cada veículo aproximadamente US$ 600,00 representam o custo com mão-de-obra, enquanto na China esse custo seria de apenas US$ 150,00.
A Volks deixou claro que se não baixar os salários em 35% eles saem daqui e vão para a Ásia. Isso significa retomar as condições de trabalho do século 19, protesta o coordenador do Conselho Sindical, Silvio Luiz Nascimento.
A preocupação é que Volks seja referência para as demais montadoras, completa o conferente de capatazia Carlos Roberto Salani, membro da União Portuária.
Conselho Sindical da região teme precedente perigoso
Da Reportagem
O temor do Conselho Sindical é de que essa iniciativa da Volkswagen, de pressionar os metalúrgicos do ABC visando uma redução nos salários, possa abrir um precedente perigoso às vésperas de discussões importantes, como a reforma trabalhista que deve ser discutida no próximo governo. Percebemos que essa é uma luta que não se pode lutar sozinho. Hoje são os metalúrgicos do ABC, amanhã seremos nós. É importante levarmos para a sociedade que esse não é um problema isolado dos metalúrgicos. É uma pressão do capital sobre os salários, revela Silvio Luiz Nascimento, coordenador do Conselho Sindical, cuja abrangência vai de Ilhabela, no Litoral Norte, a Barra do Turvo, na divisa com o Paraná.
A relação capital trabalho está muito desigual pela força que os empresários adquiriram. Não existe mais equilíbrio nessa relação, a menos que estejamos unidos, porque eles controlam tudo, explica Carlos Roberto Salani, da União Portuária.
A idéia é fazer um movimento grande, chamar os líderes dos metalúrgicos e programarmos um movimento no Porto. A fórmula ainda vai ser definida, completa Salani.
A fórmula será definida em agosto, durante encontro das lideranças sindicais da região com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e com Wagner Santana, vice-presidente do Comitê Mundial de Trabalhadores da Volkswagen. Com certeza esse apoio dos companheiros da Baixada vai se tornar um reforço importante na tentativa de sensibilizar a empresa a não demitir ninguém, avalia Santana. O que está em questão não é uma relação de trabalho, mas uma questão social, alerta o vice-presidente do Comitê.
O pior é que a Volks obteve financiamentos para construção de novas unidades e ampliação do seu parque produtivo a partir de recursos do BNDES, com o compromisso de não demitir.
Pior, parte dos valores ofertados pelo banco oficial vem do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e do Fundo de Amparo ao Trabalhador, ou seja, a empresa obteve recursos que pertencem ao trabalhador e, agora, se volta contra o próprio trabalhador.
O grande mote dessa discussão é conceito de categoria, que é uma criação capitalista e serve para dividir a classe trabalhadora, com datas-base diferentes, o que diminui a força unificada por melhores condições de trabalho e salários melhores, resume o coordenador do Conselho Sindical.
Os movimentos sindicais têm de crescer, têm de ser regionais. Isoladamente, não vamos a lugar algum. Não é aquele apoio de telefone, de tapinha nas costas, se decidirmos parar vamos parar, conclui Claudio João Amorim, integrante do Grupo de Trabalho da Subdelegacia Regional do Trabalho de Santos.
Fonte: A Tribuna
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