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23/08/2006 -

Sindicato do ABC admite "motivação política" em ultimato da Volks

Caso seja realmente uma motivação política, a empresa poderá, num segundo momento, sofrer uma contracarga do mercado consumidor

Jander Ramon

SÃO PAULO - O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijóo, admitiu que pode haver motivação política no ultimato dado na segunda-feira pela Volkswagen de fechar a unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, demitindo 12,5 mil funcionários, caso os trabalhadores não aceitem o projeto de reestruturação da empresa, que prevê 3,6 mil cortes na unidade.

"Não duvido que a Volkswagen esteja contando com o ambiente eleitoral para pressionar os trabalhadores a aceitarem a proposta", disse Feijóo à Agência Estado.

O sindicato realizará às 15h desta terça-feira assembléia com os trabalhadores da Volks para discutir o processo de reestruturação pretendido pela montadora. Durante toda a manhã desta terça-feira, os sindicalistas mantiveram contato com os funcionários da empresa, principalmente por intermédio dos integrantes da comissão de fábrica. Feijóo preferiu não adiantar qual estratégia e quais propostas os dirigentes sindicais apresentarão na assembléia.

Ele observou, entretanto, que se de fato a empresa estiver utilizando o processo eleitoral para jogar a opinião pública contra os governos federal, estadual e municipal, e assim gerar mais pressão sobre o sindicato para aceitar a proposta de corte de gastos, ela poderá, num segundo momento, sofrer uma contracarga do mercado consumidor.

Exemplo disso, lembrou o sindicalista, foi o episódio envolvendo a Ford, em dezembro de 1999, quando na semana do Natal a montadora comunicou por carta a demissão de 2,9 mil trabalhadores da unidade de São Bernardo. Diante da repercussão pública do episódio, os consumidores reagiram boicotando a marca e as vendas despencaram, o que levou a empresa a reabrir negociações com o sindicato e a solução do problema foi a diluição dos cortes em prazo de dois anos.

Feijóo reconhece que a Volks enfrenta o processo de ajuste mundial e vê na ameaça de fechamento da fábrica de São Bernardo uma "postura radicalizada com os trabalhadores". "A nova filosofia da Volkswagen é de chantagear trabalhadores com a ameaça de transferir as fábricas para outros países, onde há precarização das relações do trabalho", acusou.

Mesmo mantendo conversas no Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volks, Feijóo entende que o Sindicato está sozinho nessas negociações. "Teremos que contar com nossas próprias forças", enfatizou. Ao mesmo tempo, ele admite a possibilidade de abrir contatos com o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), para obter algum apoio nas negociações com a empresa.

"Não sabemos no que o governo estadual pode colaborar. O governo federal adotou as medidas para o câmbio e de financiamento das exportações, mas nada pode ser feito diretamente para uma indústria. Talvez o Estado possa colaborar acelerando a devolução dos créditos de ICMS das exportações, uma queixa freqüente das empresas", analisou.

"Inaceitável"

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ligado à Força Sindical, divulgou nesta terça-feira nota dizendo ser "inaceitável, sob todas as condições e hipóteses", a ameaça de fechamento da fábrica. "Tal ameaça é um atentado contra a estabilidade social", acrescenta o documento assinado pelo presidente do sindicato e também da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNTM) da Força, Eleno Bezerra.

Ele afirmou que a CNTM se solidariza com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e com os trabalhadores da Volks e colocou à disposição "toda a sua estrutura para enfrentar a montadora".

"Custa-me acreditar que, depois de querer reduzir salários, cortar benefícios, demitir e terceirizar, a empresa decida jogar com as vidas de milhares de famílias que dependem diretamente dela para viver, ameaçar a sobrevivência de fornecedores e os empregos de seus respectivos funcionários, prejudicar o comércio regional", afirma a nota. "A Volks é uma das multinacionais instaladas no Brasil mais beneficiadas com incentivos fiscais do município, do Estado e com recursos do BNDES. Ela tem, no mínimo, a obrigação de garantir empregos e cumprir com a sua função social", acrescenta, ao complementar que acredita em uma "saída negociável".

Metalúrgicos da Volks no ABC rejeitam proposta da empresa

Eles decidiram em assembléia que não vão negociar com a empresa qualquer plano que implique em demissões de trabalhadores

Cleide Silva

SÃO PAULO - Trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, decidiram em assembléia nesta terça-feira que não vão negociar com a empresa qualquer plano que implique em demissões de trabalhadores e corte de direitos trabalhistas. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que comandou a assembléia, está disposto a negociar medidas para redução de custos de produção na fábrica, mas acham ser possível encontrar alternativas diferentes daquelas propostas pela fábrica.

A direção da Volkswagen ameaçou na segunda-feira fechar a fábrica do ABC caso os trabalhadores não aceitem o plano de reestruturação proposto em maio que implica na demissão de 3,6 mil trabalhadores e redução de benefícios trabalhistas. "Não vamos aceitar nenhum acordo que signifique redução de direitos ou dispensa de trabalhadores", disse José Lopez Feijoó, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos.

Segundo ele, a direção do sindicato vai discutir com a empresa até sexta-feira propostas alternativas. No sábado os trabalhadores vão se reunir na sede do sindicato para apresentar o resultado dessas discussões. "Se não chegarmos a um entendimento vamos para a luta", disse Feijoó.

De acordo com Feijoó, a empresa está jogando para os trabalhadores a responsabilidade da má administração que a empresa vem tendo nos últimos anos. O sindicalista disse ainda ser possível discutir uma proposta que inclua o Programa de Demissões Voluntárias (PDV), mas a categoria rejeita qualquer acordo similar ao feito na fábrica de Taubaté, em que as demissões foram indicadas pela própria empresa.

Ministro vê com estranheza o fechamento da Volkswagen

Luiz Marinho disse que a situação "não combina" com o desempenho do setor automobilístico no país

Raquel Massote

BELO HORIZONTE - O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, recebeu com estranheza a possibilidade de a Volkswagen do Brasil fechar a unidade Anchieta, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O ultimato foi dado pela montadora na segunda-feira, caso os metalúrgicos não aceitem o plano de reestruturação da fábrica, que prevê um corte de 3,6 mil funcionários até 2008. De acordo com o ministro, a situação atual da Volkswagen "não combina" com o desempenho geral do setor automobilístico no país, que ultimamente vem batendo recordes de produção e vendas.

Marinho reiterou que o governo federal está disposto a intermediar as negociações entre a montadora e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, "caso qualquer uma das partes achar necessário". Mas, segundo ele, o momento atual da Volks no país é decorrente de "uma série de erros estratégicos cometidos no passado", que implicaram na perda de participação de mercado para outras fábricas. "O setor automobilístico no Brasil vive o melhor momento da história", disse ele.

O ministro aproveitou também para rebater as críticas do candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, que acusou o presidente Lula de "exterminador de empregos". Segundo ele, o ministério divulgou os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do mês de julho, com o registro de 154 mil trabalhadores com carteira assinada no período.

No acumulado dos últimos três anos e sete meses de governo, conforme Marinho, foram gerados 4,5 milhões de empregos. Ele comparou que, em oito anos de governo do PSDB à frente da presidência da República, foram criados 870 mil empregos.

"Estamos abertos às comparações para ver quem é o exterminador de empregos no Brasil, se é o nosso governo ou se é o PSDB", disse. O ministro participou nesta terça-feira da abertura do 5º Festival de Lixo e Cidadania, promovido pela Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reciclável (Asmare), na capital mineira.

Sindicato

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, filiado à Força Sindical, divulgou nota nesta terça-feira criticando a ameaça da Volkswagen do Brasil de fechar a fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, caso os trabalhadores não aceitem um plano de reestruturação. O texto foi assinado pelo presidente do sindicato, Eleno Bezerra:

"É inaceitável, sob todas as condições e hipóteses, a ameaça de fechamento da fábrica da Volkswagen do Brasil em São Bernardo do Campo, feita pela própria montadora. Tal ameaça é um atentado contra a estabilidade social. Custa-me acreditar que, depois de querer reduzir salários, cortar benefícios, demitir e terceirizar, a empresa decida jogar com as vidas de milhares de famílias que dependem diretamente dela para viver, ameaçar a sobrevivência de fornecedores e os empregos de seus respectivos funcionários, prejudicar o comércio regional.

A Volks é uma das multinacionais instaladas no Brasil mais beneficiadas com incentivos fiscais do município, do Estado e com recursos do BNDES. Ela tem, no mínimo, a obrigação de garantir empregos e cumprir com a sua função social. A Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi e Região, filiados à Força Sindical, solidarizam-se com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e os trabalhadores da Volks e colocam à disposição toda a sua estrutura para enfrentar a montadora. Ao mesmo tempo, apóiam as ações dos trabalhadores da empresa em defesa dos seus empregos e direitos.

Acredito em uma saída negociável, isto é, que não seja benéfica apenas para a empresa e, sim, para os trabalhadores".

Fonte: O Estado de S.Paulo