25/08/2006 -
Abertura de 84 mil novas vagas não impede alta do desemprego para 10,7%
Chico Santos
A queda sazonal da taxa de desemprego medida pelo IBGE nas regiões metropolitanas de seis capitais brasileiras, que historicamente ocorre no final do primeiro semestre ou início do segundo, deve ficar em 2006 para o final do ano, segundo a avaliação do economista João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em julho, a taxa subiu, atingindo 10,7%, contra 10,4% do mês anterior. Para piorar, a alta da desocupação veio acompanhada da primeira queda no rendimento médio das pessoas ocupadas (0,7%) desde janeiro deste ano.
"A minha expectativa é que em algum momento antes do final do ano haja uma reversão (no desemprego), na pior das hipóteses, em dezembro", disse Sabóia. Todos os analistas consultados pelo Valor, incluindo o gerente do Departamento de Emprego do IBGE e responsável pela divulgação da Pesquisa Mensal de Emprego , Cimar Azeredo, avaliaram que a manutenção da tendência da alta da desocupação, já manifestada na taxa de junho, está relacionada com o forte incremento da população economicamente ativa (PEA), que não está sendo acompanhado pela ocupação, ainda que esta também esteja crescendo.
"O mercado de trabalho não está refletindo a situação propícia da conjuntura macroeconômica", disse Marcelo de Ávila, analista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele ressaltou, como fatores positivos, a redução continuada da taxa de juros, a inflação controlada em patamar baixo e até um dado considerado preocupante no médio prazo, mas favorável à geração de empregos - a política fiscal mais expansionista do que no ano passado.
Para Azeredo, do IBGE, a combinação da "estabilidade com ligeira tendência de alta" do desemprego, associada à primeira queda na renda desde janeiro é motivo para "acender uma luz de atenção". Para ele, os números mostram que "alguma coisa no mercado de trabalho não vai bem", mas o técnico do IBGE avalia também ser necessário esperar os resultados das próximas pesquisas para encontrar explicações mais satisfatórias.
Para a equipe de analistas da empresa de avaliação de riscos Austin Rating, já é possível tirar uma conclusão agora. Amparados em levantamento que constatou apenas quatro pontos desde o início do Plano Real, em 1994, nos quais a taxa de desemprego fugiu à tendência histórica de não aumentar ante junho -1995, 1998, 2002 e 2006-, os técnicos avaliaram que o fenômeno atual, como o de 1995, tem uma origem "positiva".
"Como a população está mais otimista e confiante no futuro da economia, há um crescimento da força de trabalho ou um aumento da procura por emprego", afirma o relatório da Austin sobre a pesquisa do IBGE. Já as inversões da tendência observadas em 1998 e em 2002 teriam sido malignas, impulsionadas por mazelas da economia brasileira, a primeira, fruto da crise financeira asiática de 1997, que desaguou na crise russa de 1998 e na brasileira do ano seguinte. E a segunda seria derivada da crise de abastecimento de energia elétrica de 2001.
Os números divulgados pelo IBGE mostram que, em relação a julho de 2005 (9,4%), a taxa de desemprego do mês passado aumentou 1,3 ponto percentual, o que corresponde a incremento de 17,9%. O número de desocupados cresceu 90 mil sobre junho e 368 mil sobre julho do ano passado, atingindo 2,43 milhões nas seis regiões metropolitanas pesquisadas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre), ficando praticamente no mesmo nível de julho de 2004 (2,44 milhões), quando a taxa de desemprego era de 11,2%.
Ao mesmo tempo, a população ocupada, que já havia aumentado em 170 mil novos empregados em junho, também cresceu, ainda que em número mais modesto (84 mil sobre junho), chegando a 20,229 milhões de pessoas na área pesquisada. A soma de ocupados e de desempregados (aqueles que procuraram emprego e não conseguiram naquele período), que representa a PEA, alcançou 22,659 milhões, 57,2% de toda a população das seis áreas em idade considerada ativa (dez anos ou mais).
Ávila, do Ipea, destacou que o percentual, que é a taxa de atividade, é o maior desde dezembro de 2003. Quanto ao rendimento médio real das pessoas ocupadas, que baixou de R$ 1.035,58 para R$ 1.028,50, o pesquisador do Ipea viu mais como um movimento de acomodação, resultante de cinco meses consecutivos de aumento.
Segundo ele, o mais comum na série de rendimento é que dois meses de aumento sejam seguidos de um de queda. Azeredo, do IBGE, viu a queda do rendimento como conseqüência do aumento do número de trabalhadores sem carteira (2,3% sobre junho), embora o emprego formal também tenha crescido (0,8%). O emprego formal tem remuneração mais baixa e ajuda a deprimir a média.
Marinho minimiza importância da pesquisa do IBGE
Arnaldo Galvão
O anúncio da taxa média de 10,7% de desocupação em julho, em seis regiões metropolitanas - o mais alto dos últimos 15 meses - vai no sentido oposto ao que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, vem mostrando para o emprego em todo o país. O comentário foi feito ontem pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que procurou reduzir a importância da informação divulgada ontem pelo IBGE.
"A tendência é exatamente a contrária. Não sei onde o IBGE encontrou esses números. As pesquisas sobre mercado de trabalho no Brasil, infelizmente, são limitadas em algumas regiões metropolitanas. O Caged aponta um rumo diferente, com o crescimento do emprego fora das regiões metropolitanas", observou o ministro.
Marinho disse que, ano após ano, os números do Caged são confirmados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e pela Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que, segundo ele, são mais abrangentes.
No primeiro semestre, Marinho reconheceu que o aumento do emprego formal ficou um pouco abaixo do crescimento do mesmo período de 2005. Mas destacou que, em julho deste ano, houve recuperação. O saldo entre contratações e demissões foi 31,39% maior que no mesmo mês do ano passado.
Fonte: Valor
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