NOTÍCIAS - Brasil

31/08/2006 -

Ministro lava as mãos na greve da Volks

Marcelo Tokarski e Luís Osvaldo Grossmann

Correio Braziliense

Ministro do Trabalho afirma que caberá à Volkswagen e aos funcionários negociarem as 1,8 mil demissões anunciadas pela montadora. Greve, iniciada ontem, continua

O governo desistiu de participar da briga para tentar evitar demissões na Volkswagen do Brasil. Dois dias depois de se reunir com executivos da montadora no Palácio do Planalto, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse ontem que a situação precisa ser resolvida entre a empresa e os metalúrgicos, e que "o governo não tem muito o que fazer". "Tem situações em que as partes precisam se entender. (O governo) tem que atuar se as duas partes solicitarem", afirmou o ministro, por intermédio de sua assessoria de imprensa. Foi a primeira manifestação de Marinho após o anúncio das 1,8 mil demissões, feito pela Volkswagen na terça-feira.

Também ontem, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que o governo defende um entendimento entre empresa e trabalhadores. No entanto, reconheceu que a notícia das demissões e a ameaça de fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, reduto eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desagradam. "Obviamente o governo não vê com bons olhos o fechamento de fábricas no Brasil, especialmente a unidade de São Bernardo", afirmou a ministra.

Dilma disse ainda que o empréstimo de R$ 497 milhões que a Volks negocia com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continua sendo reavaliado. "O contrato de financiamento tem uma cláusula que permite a revisão. Seria absolutamente estranho que a gente financiasse algo sem base material", justificou a ministra, referindo-se à ameaça de fechamento da fábrica no ABC. Segundo Dilma, o governo não foi avisado sobre as demissões na reunião de segunda-feira.

Paralisação

Ontem, em assembléias na porta da fábrica de São Bernardo, os funcionários da Volkswagen decidiram manter a paralisação iniciada ontem. A categoria também mudou de estratégia. A greve não será mais por tempo indeterminado. A idéia é tomar decisões diárias que possam surpreender a companhia, como forma de pressionar a Volks a reverter as demissões. Uma das estratégias inclui, por exemplo, a paralisação da estamparia (que produz as chapas de aço), o que poderia prejudicar outras fábricas da empresa no país.

Embora o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC seja filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), a paralisação ganhou o apoio das demais centrais sindicais. Os dirigentes da Força Sindical, da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e da Social Democracia Sindical (SDS) se solidarizaram com o movimento e passarão a participar das assembléias diárias. Outra estratégia dos metalúrgicos é manter a greve até que as vendas da VW comecem a ser afetadas. A empresa não comenta, mas especula-se que os estoques durem no máximo 10 dias.

A unidade de São Bernardo é a maior e mais antiga da empresa no país. Emprega 12,4 mil pessoas e a produção diária é de 940 carros. De acordo com o plano de reestruturação divulgado pela Volks, serão dispensados 3,6 mil funcionários até 2008. O plano inclui a redução de direitos trabalhistas dos demais, caso contrário as demissões podem atingir 6,1 mil trabalhadores e até mesmo o fechamento da fábrica.

Ontem, em nota, a empresa reiterou o risco de fechamento da unidade, caso não haja acordo com os trabalhadores. Segundo a nota, na primeira quinzena de setembro serão realizadas reuniões na matriz alemã, quando serão decididos novos investimentos no Brasil. A empresa anunciou ainda que dará férias coletivas aos funcionários que trabalham na linha de produção do Gol entre18 e 24 de setembro.

 

CONTRATAÇÕES NA FIAT

A Fiat Automóveis iniciará em setembro a contratação de 300 funcionários, ampliando seu quadro para 9,3 mil trabalhadores. A montadora instalada em Betim (MG)vai reforçar o efetivo nas linhas de produção de todos os modelos da marca, do popular Mille à perua Marea. No início do ano, a montadora mineira já havia admitido 300 pessoas para criar um terceiro turno de trabalho na área de pintura e para os setores de engenharia e design. Novas vagas devem ser abertas nos próximos meses em Betim, envolvendo também outras empresas do Grupo Fiat, como Comau e Magneti Marelli.

Fonte: Correio Braziliense