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05/09/2006 -

Marinho muda discurso e apóia reestruturação

Da AE

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, defendeu a reestruturação gradual da Volkswagen do Brasil, por meio de um modelo que seja definido nas negociações entre a empresa e os trabalhadores. Ele lembrou que, o acordo que garantiu por cinco anos os empregos dos funcionários da empresa, cuja vigência termina em novembro, evitou a demissão em massa, mas não impediu que a empresa demitisse trabalhadores.

"Não é verdade, como dizem alguns, que o acordo agravou a situação da empresa porque ela não poderia demitir. O acordo evitou a demissão em massa, mas teve uma porta de saída, tanto que, nesse cinco anos, 4,5 mil trabalhadores deixaram a companhia", disse Marinho, ao chegar para o jantar que reuniu empresários e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na casa do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

Marinho destacou que, embora a situação do mercado automotivo seja positiva, e não combine com o fechamento de empresas, há um consenso de que a Volkswagen necessita de uma reestruturação. "A melhor maneira é que isso ocorra de forma negociada", disse Marinho.

Ele reafirmou que o governo está à disposição das partes, caso elas necessitem de um intermediário para encontrar uma solução. Marinho disse que, por enquanto, o governo está aguardando o resultado das negociações entre trabalhadores e empresa. "Vamos aguardar o resultado, por enquanto é só o começo. Eu creio que as partes podem encontrar uma saí que não seja dramática."

Dias atrás o discurso do ministro do Trabalho contra a multinacional, no entanto, foi mais duro, quando ele disse publicamente ser contra financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Volks: Dib ataca Sindicato e imprensa

Juliana de Sordi Gattone, Miriam Gimenes e William Glauber

A situação da fábrica Anchieta da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo, parece ser mesmo a pedra no sapato do prefeito William Dib (PSB). Segunda-feira, o prefeito mostrou-se irritado ao culpar a imprensa e o Sindicato dos Metalúrgicos pela fuga de investidores do Grande ABC e avaliar ter saído na dianteira ao apresentar projeto de incentivo fiscal. "Não sofri qualquer pressão da montadora alemã para entrar na guerra fiscal. Eu decidi sair na dianteira", disse ele, referindo-se à lei aprovada na semana passada.

Pelas novas regras, descontos de até 80% em ISS (Imposto Sobre Serviços) e IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) podem ser concedidos a empresas que gerarem mais ICMS (Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços). "Isso eu já falei para direção: se trouxerem novos projetos e isso causar incremento de ICMS, terão redução significativa no IPTU. E não precisa fazer uma nova fábrica para ter incentivos, precisa ter aumento de receitas", acrescenta Dib.

Após reunião com os demais prefeitos do Grande ABC, Dib afirmou que houve consenso sobre a situação da montadora. "Todos temos clareza de que isso é problema trabalhista e não da política econômica da região", disse. Para ele, a imprensa é a responsável por afastar novos investidores. "Insistem em dizer que não faço nada. Mas o momento é de trabalhar", defendeu-se.

Segundo o prefeito de São Bernardo, o Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC (filiado à CUT) também contribuiu com a situação quando decidiu radicalizar. "Ficou denegrida (com a greve) a imagem da região com a visão de que o sindicalismo daqui é radical e não negocia", disse Dib ainda pela manhã, antes do acordo que pôs fim à greve por uma semana.

O prefeito citou como exemplo a unidade de Taubaté, que após 24 horas de negociações fechou acordo com a montadora. "Essa imagem (radical) ficou para o Brasil, que nós estamos em greve sem diálogo", acrescentou. Em razão disso, os prefeitos decidiram chamar a direção do sindicato para uma conversa, ainda sem data definida.

"Vamos tentar um diálogo mais tolerante possível para a gente construir a manutenção dos empregos e da empresa, esse é nosso papel." Para Dib, qualquer outra proposta dos prefeitos seria pura demagogia. "É um problema de ordem trabalhista. Não podemos nos envolver de outra maneira."

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, respondeu às críticas do prefeito à "radicalização da greve". "Em vez de adotar essa postura, o prefeito William Dib deveria perceber que sindicato só tem sentido para existir se for forte e combativo. Essa combatividade garantiu à região a terceira colocação no país no ranking de potencial de consumo", disse o sindicalista.

Para Feijóo, industrialização com baixa renda dos trabalhadores não garantiria a atual realidade econômica do Grande ABC. "Não basta ter muitas fábricas se os trabalhadores não ganham bem", avaliou o sindicalista. Segundo ele, a elevada arrecadação de impostos também não é suficiente para garantir desenvolvimento econômico. Feijóo também reiterou que a greve somente foi decretada após a Volks entregar as cartas de desligamentos a 1,8 mil trabalhadores.

Possibilidade Rebatendo as previsões de prejuízo, Dib avaliou que o fechamento da unidade da Volks de São Bernardo poderá gerar um risco econômico incalculável. "As conseqüências serão como a de um tsunami para a região. Porque, além da economia local, setores como educação, saúde, segurança e outros sofrerão com a saída da montadora."

Para Dib, além do diálogo, é preciso promover a revisão da forma de trabalho da montadora. "Precisa avaliar o que pode ser feito para reduzir despesas da empresa. Assim, ela poderá voltar a competir no mercado", acrescenta.

Segundo ele, para que a unidade da Via Anchieta não seja extinta, a conduta em todas as esferas tem de ser cautelosa. "A gente tem de tratar a questão com pouco sensacionalismo e muito pé no chão", finaliza.

Fonte: Diário do Grande ABC